Esta é minha vida, se é que posso chama-la assim.
Meu pai falou que eu nasci com cara de joelho. Minha mãe disse que eu era “bonitinho sim” num ato de clemência.
Sei que eu chamava atenção quando pequeno onde quer que eu fosse. Diziam para minha mãe ao ver minha irmã: - Que gracinha. Mas, quando olhavam para mim diziam: - É seu filho? E minha mãe constrangida respondia: - Sim
Eu me sentia o próprio ET de Varginha.
Meu primeiro dia de aula foi uma tortura. A cena era: Todas as crianças chorando na porta da escola agarrando as mães pelas pernas e quando me viram chegar imediatamente pararam de chorar e me encararam. As mães então aproveitando a oportunidade empurraram seus filhos abestalhados para dentro.
Aos poucos todos foram se enturmando, mas eu fiquei solitário em um canto. Nem a professora me deu atenção.
Comecei a reparar em mim. Minha roupa era diferente da dos outros meninos. Meu sapato maior do que meu pé. Meu cabelo repartido à antiga. Até meu lanche era diferente. Pão com manteiga e limonada. Comecei a me odiar e a todos em minha volta.
Ninguém me escolhia fazer parte de nenhum grupo. A professora que por misericórdia me colocava em algum. Via a cara decepcionada das meninas pela escolha da professora.
Os meninos riam de mim. A professora não fazia nada e também ria disfarçando.
Fui passando de ano por que ninguém repete.
A historia se repete. Sinto-me marginalizado.
Quando volto para casa me tranco no quarto e quando meu pai chega quase sempre me da uma surra, não sei o motivo. Minha mãe não me defende. Minha irmã me rejeita.
Fui crescendo assim sem personalidade. Ao invés de estudar fico me auto-analisando e pensando o que poderia fazer para mudar aquela situação.
Como ninguém se importa comigo. Acharei um jeito de provar que todo mundo tem a ver comigo sim.
Minha distração são as comunidades na internet. La eu posso ser outra pessoa.
Com o tempo só penso em me vingar e estou pronto para qualquer coisa.
Preciso mostrar para as pessoas que eu também sou gente.
Nem se depois disso eu tiver que dar cabo desta minha pseudo-vida.
Iride Eid Rossini
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