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10 de mar. de 2011

A dificil decisão

Por tantas vezes ela havia adiado a decisão de ter filhos. Tinha medo de estragar seu corpo. Era jovem, queria aproveitar a vida, se divertir, trabalhar. Os anos foram se passando. Uma consulta ao médico colocou a mulher a par dos riscos de uma gravidez tardia. Mas ela não seria uma árvore seca, não ela, que todos cobravam, que todos paparicavam, filha única, esperança de dar prosseguimento ao nome da família. Mas ela tentaria. Abandonaria todos os métodos anticoncepcionais e tentaria engravidar.
Depois de muitas tentativas frustrantes enfim cessaram as regras. O médico foi visitado, exames foram feitos.
Ela estava grávida. Finalmente.
A ciência proporcionava a facilidade de examinar o feto para saber se a criança nasceria perfeita.
Eles jamais aceitariam um filho com problemas genéticos.
O exame foi feito.
O casal recebe o telefonema da secretária do especialista em genética.
Eles logo desconfiaram, um problema havia sido detectado.
- Decidir se quero um filho com síndrome de Down?
É lógico que não! Afinal para que pagamos uma fortuna pelo exame?
Que vergonha! O que diriam nossos amigos, que não temos capacidade de gerar filhos perfeitos. Ser motivo de chacotas? Jamais! Afinal todos diziam que éramos um lindo casal. Como agora explicar um filho assim com a carinha igual a tantos mil. Sem características nossas, sem ser inteligente como o pai e bonito como a mãe! Não!
A decisão foi tomada, tentariam outra fecundação, afinal já havíamos esperado tanto, esperaríamos outro tanto, mas nosso filho nasceria perfeito.
- Lembra-se meu bem quantas vezes nos negamos até mesmo olhar para o filho de nossa vizinha? Tínhamos pena dela. Quantas vezes ela precisou e não oferecemos ajuda. Disse a mulher em confidência ao marido.
Assim deram a resposta ao médico:
- Doutor nossa decisão foi tomada sem arrependimentos. Desejamos seja feita nova tentativa.
Alguns meses se passaram e uma nova fecundação. Desta vez o feto não tinha defeitos. Nasceria uma criança perfeita. Seria um orgulho para a família. Valeu a pena esperar.
O quarto do bebê foi montado. E era lindo. Roupinhas caras, enxoval importado, móveis com motivos infantis.
Era muito grande a expectativa.
Chegou o grande dia.
As contrações alertaram que a hora estava chegando.
Era um dia muito movimentado no hospital. Vários bebês resolveram nascer no mesmo dia.
A bolsa estourou. A gestante foi encaminhada às pressas para a sala de cirurgia. Não houve dilatação, uma cesariana se fez necessária. Finalmente o bebê foi retirado e um olhar de preocupação se viu no obstetra. Ela estava sonolenta, mas conseguiu perguntar se seu filho era bonito.
- Sim, ele é muito lindo, mas, tivemos um pequeno problema. -   O que foi perguntou ela desesperada. Faltou oxigênio em seu cérebro por uns instantes. - E daí doutor?
- Comprovaremos mais tarde, mas julgo que ele será uma criança especial. Certamente necessitará de cuidados especiais.
Ela se pôs a chorar desesperadamente. Seu marido pegou o nascituro no colo e disse.
- Mas veja meu bem como ele é lindo!
Iride Eid Rossini
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