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19 de mar. de 2011

O julgamento

Uma mãe estava em fase terminal internada em um hospital da cidade.
Delirava muito e sua amada filha permanecia ao seu lado.
Numa fase de consciência a mãe abriu os olhos e chamou por sua filha.
-Filha!  Recebi a visita de um anjo que me mandou lhe contasse uma breve história antes que eu partisse.
Os olhos da filha encheram-se de lágrimas e numa expressão de atenção se aproximou de sua mãe carinhosamente.
E a mãe com a voz trêmula começou a contar:
Uma mulher havia cometido um crime. Um crime perfeito, oculto.
Mas a acusada sabia que sua falta era grave e seria por isso julgada.
Mas ela faria tudo para se livrar da pena, ou pelo menos amenizá-la.
Tentaria se comunicar com o juiz.
Entretanto, havia um boato que o Meretíssimo era implacável, suas penas se reportavam ao tempo do Código de Talião: "Olho por olho, dente por dente”
Mas Deus não poderia permitir tal julgamento, afinal Ele era Pai, e Pai é Pai, Pai perdoa.
E a considerar também que ainda havia tempo para rezar.
Rezaria, pediria perdão, se arrependeria, confessaria seus pecados.
Afinal ela não errou por querer; quer dizer, ela não havia pensado nas conseqüências de seus atos, isto é, ela não pensou que teria que pagar pelos seus erros.
Afinal havia aprendido que era só confessar seus pecados perante Deus que estaria perdoada.
Mas agora descobriu que não era bem assim.
Haveria um julgamento.
Tentou falar com o Juiz da causa, mas este não tinha ouvidos para ouvir;   
Tentou ouvir a resposta para as suas súplicas, mas o juiz não tinha boca para responder;
Procurou se emendar, mas só conseguiu amenizar sua pena.
Tentaria cancelar o pagamento de seu débito com alguma indulgência, mas soube que só conseguiria adiar o pagamento para quando tivesse condições de saldá-lo.
Procurou então por Deus para resolver este caso, mas foi informada que não estava em suas mãos.
Afinal o homem tem o livre arbítrio e, Deus não interfere em nada, só deu a ele uma consciência para alertá-lo.
Então a acusada descobriu que seria julgada pelas Leis Universais que haviam sido acionadas.
Mas nem tudo estava perdido, depois do acerto de contas haveria uma segunda chance, ou terceira, ou quarta, resumindo, haveria uma eternidade e Deus era paciente.
Deus criou seus filhos e os fez independentes.
Quis que tivessem o mérito quando acertassem, mas em compensação responderiam por seus atos impensados.
Nada mais justo, você não acha?
A filha permaneceu em silêncio.
A mãe respirando profundamente como a buscar forças continuou:
- Minha filha, guardo esta história contada por sua avó oito meses antes de você nascer. 
   O anjo na qual eu me referí é ela que está neste momento ao seu lado te abraçando.
   Graças a ela, minha filha, que você nasceu.
- Mãe! Pergunte a vovó qual seria a pena da acusada?
E a mãe quase se esvaindo respondeu:
- Sua pena seria uma vida vazia sem a alegria de ter sido mãe, o abandono na hora da morte sem a presença de uma filha carinhosa para lhe fazer companhia. Façamos agora uma prece. 
Eu preciso seguir com sua vó.
Neste momento de muita tristeza, a filha após muito chorar, tomou o telefone ligou para uma clínica clandestina e desmarcou uma cirurgia que faria na manhã seguinte. 
Iride Eid Rossini  
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